Testamos 5 modelos de um clássico da aviação para sabermos quem está produzindo os melhores modelos da atualidade.
Lançar um modelo novo é muito complicado. Envolve projeto de engenharia, design, produção, trabalhos gráficos de caixa e decal, marketing, distribuição
e varejo. Uma operação muito complicada, e não muito rentável como outras manufaturas. Por essas que as empresas de kit gostam de arriscar o mínimo possível, eles sempre recorrem aos
kits que geram maior fluxo de vendas, ou seja, “mais dos mesmos”, como foi comentado em outra coluna quando se falava do Leopard A2. Mais do que o Leopard, o Bf-109 é aquele avião queridinho, presente
em todos os catálogos das marcas mundo a fora, o “pãozinho quente” de qualquer empresa de plastimodelismo. Com isso, fica evidente que alguns modelos de aviões, tanque, carros e etc não
possuem suas versões em escala, deixando lacunas nas nossas coleções.
Mas vamos tirar vantagem dessa situação. Vamos aproveitar essa política
das empresas para testar modelos semelhantes e descobrir assim, peculiaridades entre grandes marcas do ramo, que tipo de qualidade eles estão tentando imprimir em seus produtos.
Para essa matéria, serão comparados 5 dos modelos de Bf-109 de marcas que estão
em destaque no momento, modelos que são facilmente achados em lojas ou mesmo na coleção dos modelistas. 4 modelos tiveram sua construção iniciada exclusivamente para essa matéria, são
eles o Bf- 109 E da Hasegawa, bf 109 F2 da icm, Bf-109 F4 da Zvezda e o BF-109 E4 da airfix. Um quinto modelo entra paralelamente na matéria, o Bf-109 E3 da Eduard, que foi montado por um aluno do Blog do Chiquito,
com a supervisão desse que escreve, e mesmo fora do comparativo direto, vale a pena cita-lo na matéria.
São 5 modelos para todos os bolsos. Kits clássicos, mas que ainda circulam, e também
kit novinhos, moldados nos últimos anos.
As primeiras impressões:
Começando pelo kit da Hasegawa, um clássico obrigatório na coleção
dos modelistas. O molde foi construído primeiramente em 1980, e veio para reinar, destronando modelos antigos como Revell, Monogran e Fujimi. Porem, em 1989, menos de uma década depois, o modelo já estava
defasado em alguns critérios para modelos como o da Tamiya, e por isso a marca resolveu modernizar e reformar seu molde, deixando-o baixo relevo, acrescentando detalhes e sem perder as ótimas características
de encaixe e geometria. Sobrevive em linha até então. Tem seus errinhos, suas omissões, mas suas qualidades e seu preço baixo sempre o mantiveram ativo e competitivo no mercado. Para ajudar, a Hasegawa
sempre reciclou seu modelo com novas caixas, sempre ilustradas pelo mestre Shigeo Koike, novas versões, novos decais, versões especiais com resina e photo-eched e outros mimos.

O modelo da Icm foi uma mistura de sentimentos. Uma caixa pequena com as peças apertadas abrigava
um kit de forma bastante sufocada. Uma arte de gosto duvidoso sela isso tudo, incluindo um manual impresso de forma muito ruim e compacta, com informações atropeladas e de visualização ruim, e um
decal de qualidade razoável. O molde não é antigo, data de 2006, uma época em que a ICM começava sua mudança de uma marca recém lançada com modelos “Short Run”
para uma marca de modelos com qualidade de montagem e arquitetura. Ou seja, o bf 109 deles está a meio caminho entre aqueles primeiros modelos “detestáveis” da marca nos idos de 2002 e a meio caminho
dos grandes modelos de aviões que eles lançam hoje.


O modelo da Eduard nasceu em 2012, já com essa difícil tarefa de enfrentar o modelo
“up to date” da Zevda. Numa “hype” poucas vezes vistas antes num lançamento de kit, a Eduard entrava nesse ano no mercado dos 1/48 de forma definitiva após relativo sucesso reembalando
modelos de outras marcas e vendendo os seus próprios, como o sucesso de venda Bf-109 E na escala 1/32. Quando se eleva a “hype” como a Eduard elevou, a expectativa de um modelo sem precedente sobe também,
e a chance de decepcionar os clientes também sobe. Foi o que aconteceu com alguns modelos da marca nessa época, como os bf-109 Gs e os FW-190 As, ambos precisando de reformas no projeto, no caso do 109g o modelo
foi todo refeito e relançado recentemente. Mas não foi o caso dos Bf-109 Es, esses agradaram na qualidade e na arquitetura, por mais que não fossem os modelos definitivos de bf-109 que os modelistas esperaram
que fossem.
O kit 1/48 do 109 E tem uma influencia muito forte do modelo anterior na escala 1/32, sendo quase
um modelo “pantografado” para escala. Pela lógica, se o 1/32 saiu bom, o 1/48 seguiria o mesmo caminho. A arquitetura do kit é bastante avançada. O kit é daqueles que encantam ao abrir
da caixa. Centenas de boas e delicadas peças, feitas em um plástico de boa qualidade de forma quase impecável, sempre acompanhado de um excelente manual, de informações dispostas de forma
calma sobre as várias paginas do livreto, e mais a carta de pintura sempre colorida e explicativa, com cores referencias e pequenas historias sobre os modelos a serem montados. Em termos de kit na arvore, Eduard e Zvezda
empatam. Mas ao levar em contas as caixas e os mimos que a eduard oferece junto, assim como as diversas versões e opções de compra dos modelos como weekend, profpack e royal class, a eduard sai na frente
no quesito “colecionável”, mostrando um pouco mais de carinho pelo cliente que as outras marcas.

No quesito “Box Modelismo”, Eduard toma a frente em qualidade de colecionismo, tornando
suas caixas um prato cheio para serem admiradas dentro e fora, seguido pela Zvezda que apesar de não fazer um marketing tão bom como a Eduard, o kit em si na arvore é uma lição de engenharia
bem feita, mas meus favoritos ainda são os Hasegawa e suas ilustrações maravilhosas, que na minha opinião valem tanto quanto o kit, e em termos monetários, cabem melhor nos nossos bolsos
também.
Montagem: Onde o bicho pega.
Analisar o item colecionável na caixa é uma coisa. Botar o kit para funcionar já é uma pegada diferente. Nem sempre o que o kit nos mostra na caixa condiz
na hora da montagem. Então vamos analisar a experiência de montagem de cada um deles.



Mas o Zvezda possui mais virtudes que falhas. Ao seu jeito o kit funciona de forma fluida, merece
a fama de “ótimo kit” que recebeu nos últimos anos, além de ser uma ótima plataforma para projetos que vão muito além do out of box.
A Eduard seguiu de perto a Zvezda e seu modelo é tão bom e complexo quanto. Os kits
da Eduard no geral são sempre voltados para modelistas experientes, e com o bf-109E3 deles não é diferente. Com uma complexidade elevada associada a uma quantidade enorme de peças e com enorme riqueza
de detalhes, a dinâmica do modelo se torna lenta, arrastada, até mesmo desmotivante em alguns momentos. E apesar de ser tratar de um modelo perfeitamente modelado e injetado, não espere encaixes certinhos
e uma arquitetura colaborativa com o modelista. A todo momento encontramos peças sem encaixes e montagem muito pouco intuitiva. Mas ao final de uma montagem muito pouco estimulante, o resultado final faz valer o esforço.
Mas fica evidente montando esse modelo que ele foi feito para casar com todos os “afters” produzidos pela Eduard, ou seja, ser montado na versão PROFIPACK. Pratica comum essa da Eduard, uma marca de “Afters”
que produz kit justamente para explorar melhor esse mercado de melhorias extras dos modelos. Não irei julgar se isso é correto, mas vale ressaltar.
A Airfix imprimiu em seu modelo uma toada diferente dos rivais. Se na caixa o modelo parece ser um
tanto fora de escala, quando iniciamos a montagem encontramos um modelo bem espartano em detalhes, como os Hasegawas, porem bastante funcional e simpático, e principalmente, um kit divertido de se montar. O foco da
marca em alcançar camadas menos experientes de modelistas fez do kit uma brincadeira agradável, de encaixes fáceis e montagem intuitiva. Para alcançar esse patamar, o modelo abre mão da sua
margem de segurança no quesito precisão, ou seja, as peças se encaixam bem, mas espere um modelo com bastante fretas e bastante trabalho de funilaria. Erros conceituais são cometidos no modelo que
nunca prometeu perfeição, como no caso de marcas do extrator do molde em lugares bastante visíveis, um motor injetado em duas partes junto com a fuselagem, do qual eu recomendo que ignore sublimemente
devido a total falta de similaridade com o original além de uma pobreza enorme de detalhes, além de scribes grossos demais, que quase suplantam a necessidade de efeitos de washed depois. Mas é notável
desde o início que a experiência de montagem vem antes da exatidão geométrica para a nova Airfix, e por ser tão agradável, acaba se tornando um bom modelo em escala.
Os vereditos finais:
BF-109 E4 Hasegawa: Apesar de sentir o peso do tempo e a modernidade dos concorrentes, sua simplicidade, geometria impecável e montagem sem percalços tornam o modelo ainda
uma opção a ser considerável, fácil de achar a bons preços em mãos de particular, ou novos em lojas no estrangeiro, o modelo é ideal para quem foca mais em pinturas e não
tanto em montagem. Por eu ser um desses, ele ainda é meu favorito.
Bf-109 F4 Zvezda: Modelo muito bom, quase excelente. A marca russa teve um carinho com a arquitetura e com os encaixes das peças. No quesito encaixe, ele só perde para
o Airfix. É também o modelo mais bem detalhado do teste. Errinhos na arquitetura fazem com que ele não ganhe o teste, mas me convenceu. Excelente opção de compra para modelistas de longa
data.
BF-109 E3 Eduard: É o melhor conjunto da obra do teste, mas vence o Zvezda por bem pouco. O kit comete menos erros de arquitetura que o zvezda, e isso gera menos trabalho de acerto depois, mas o modelo tem uma montagem menos fluída que o rival russo, uma preocupação menor com os encaixes, e o modelo só é pleno quando se trata das versões mais completas como profpack e royal class. Como kit, Eduard e Zvezda se equivalem e ambas tentaram sem sucesso alcançar a perfeição. A vitória da Eduard fica mais por conta dos periféricos ao kit como manuais e decais. Mas importante frisar: Uma excelente opção de compra também, para modelistas experientes.
Bf-109 E4 Airfix: O pior do teste no quesito “delicadeza”, mas o primeiro em simpatia e diversão. Sua montagem é extremamente fluída, o modelo acaba
te cativando, quase como um brinquedo, mas sem perder o viés de modelo de precisão. Reparos e funilaria necessários depois são pouco relevantes diante da facilidade da montagem, sendo esse modelo
a escolha certa para modelistas novatos. E é necessário dizer: Após estar montado, o kit funciona muito bem aos olhos, principalmente no interior do cockpit e caixas de trem de pouso. Boa compra para
iniciantes, principalmente se for encontrado em preço competitivo.
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