sábado, 12 de janeiro de 2019

Pintura Candy, o desafio máximo de pintura em carros.


Vamos reproduzir o icônico azul do Chevrolet corvette dos anos 90 no modelo da Revell.

Montagem, texto e fotos: Bruno “chiquito” Cascapera


              Ao longo dos anos, o modelismo profissional vem me cobrado uma versatilidade tremenda. Um dia estou fazendo um avião da segunda guerra para minha coleção, em outro estou fazendo um diorama 1/72 para um aluno, no outro polindo uma carroceria de carro para uma encomenda. Todos os modelistas tem suas preferencias, e comigo não é diferente. Mas quando entrei nessa para montar e ensinar os outros, sabia que seria tirado da minha zona de conforto constantemente.
              Chamo de virar a chave. Um dia você se divertindo estragando deliberadamente um modelo para parecer velho, e no outro você está se estressando porque a pintura não está alcançando o brilho que você queria. Numa semana repleta de aulas e compromissos, preciso virar a chave uma dúzia de vezes para atender cada um dos meus clientes.
              É confesso que quando viro a chave para o modo “pintura de carros”, apesar de gostar bastante do tema, sou arrancado completamente da minha zona de conforto. Sou levado a navegar por mares poucos navegados em minha carreira.
              Dessa vez o desafio foi acertar uma pintura candy. O kit é um corvette conversível 96, da revell. Um molde contemporâneo ao carro, mas que apesar dos seus vinte anos de idade, ainda se mantem jovem e atualizado, um kit já feito na era moderna dos "cads" e dos moldes cnc, então o kit funciona direitinho. Mas é um modelo bastante manjado, conhecido entre os montadores de carro, e que decorre de uma montagem sem percalços. Então irei me reter a falar pouco do modelo em si. Mas apenas para o querido leitor não ficar sem um feedback: Se você está pensando em montar um, vá em frente e divirta-se, o kit irá te ajudar!
              Irei usar esse meus espaço mais para ensinar a técnica da pintura Candy. Mas afinal, o que é isso?
              A pintura Candy é basicamente uma pintura bastante brilhante e lisa, compostas de dois elementos de cores distintos e complementares um ao outro ao efeito. Ele tem esse nome em referencia aos doces caramelados, dos quais a cobertura de açúcar semitransparente acaba formando uma película dura e cristalina sobre a superfície aplicada. Não entendeu? Lembre-se então da maçã do amor.
              A técnica consiste em copiar esse efeito. Aplica-se uma base de ancoragem sobre o modelo, geralmente uma cor metálica, e na sequencia altera-se a cor num efeito de filtro saturado, usando vernizes vitrais coloridos, ou no caso como mostraremos, clear da tamiya.
              Eu considero um dos desafios supremos da pintura em carros pois a técnica contem diversas dificuldades a serem observadas.
              O primeiro desafio é o acerto da tonalidade. O resultado não depende de uma cor apenas, e sim de duas, três se contarmos com o primer. A escolha da cor primaria de ancoragem influencia 50 % do resultado, tornando o resultado mais claro ou escuro, menos ou mais metalizado, e capaz ainda de mudar o tonalidade e calor do verniz vitral a ser aplicado na sequência.
              Já a escolha do verniz vitral colorido, ou clear, impacta diretamente em questões como brilho, profundidade, reflexo e tonalidade final do efeito. Não existe uma combinação errada dos elementos, existe apenas a necessidade de ambos estarem bem aplicados para o efeito aparecer. Mas se você busca uma tonalidade precisa de cor, faça testes antes entre diferentes elementos de base e cobertura antes de aplicar no modelo.
              A outra dificuldade da técnica está em acertar o ponto, brilho e acabamento de diferentes tintas e composições, com resistências mecânicas diferentes e tempos de secagem distintos.
              Apesar desse ser um modelo de montagem comissionada, eu aproveitei a oportunidade para aprimorar e trabalhar essa técnica da qual eu possuía pouca experiência. Pintei o modelo mais de uma vez até achar o equilíbrio exato entre brilho e tonalidade, e irei compartilhar a experiência aqui com vocês. Então vamos ao tutorial:

1- Preparação das peças: Já deve ser de praxe de suas pinturas a preparação prévia das peças antes da pintura. Lave bem as peças pois iremos usar elementos com diferentes níveis de “garra” no modelo, não quero ser atrapalhados por óleo do desmoldante, gordura das mãos ou por pó de plástico oriundo da funilaria.


2- Aplique um primer ou uma tinta acrílica de boa aderência no plástico. Eu não utilizei primer na minha pintura, e sim uma tinta acrílica automotiva preta Pr-colors. As tintas acrílicas automotivas, ao contrário das tintas duco, aderem por si só no plástico, sem a obrigatoriedade do primer, podendo até mesmo substituir o primer. Eu escolhi o preto brilhante pois uma base preta sobre o kit torna a pintura metálica mais fácil e vistosa, e pelo fato dela ser brilhante, seu brilho natural não irá interferir no acabamento final das outras cores.














3- Como camada de cor base para o efeito candy, utilizei a cor “Metalic Blue” da Pr-colors diluída com Thinner Lucksnova 237 . A cor por si só já é linda, uma cor metálica lisa que tem um “puxado” pro azul que já vai ajudar a chegar na tonalidade final necessária. Mas como foi dito anteriormente, essa cor foi testada antes, para ver se chegávamos no efeito desejado. Recomendo que faça o mesmo.












4- Certifique-se do acabamento da camada metálica sobre o modelo. Como ela receberá uma camada generosa de verniz por cima, ela não precisa estar muito brilhante nem polida, mas é necessário que a camada esteja lisa, sem ruídos na pintura (casca de laranja), sem grãos aparentes, e aplicada de forma uniforme sobre o kit. Esses cuidados são essenciais, pois a camada vindoura de verniz não irá tampar nada da camada metálica. Tudo de errado que você possa ver de aparente nesse estágio da pintura, estará no estágio final. Então fique a vontade de lixar, polir ou reaplicar novas camadas de cor metálica nesse estágio. Mas não use cera ou massa nesse estagio, elas podem comprometer a aderência do verniz. Se o polimento for necessário, use lixas finas e água. Outra dica: utilize tintas metálicas resistentes, como acrílicas ou poliéster. Evite as esmaltes do tipo metalizer ou alclad.






5- Inicie o processo de várias camadas de verniz vitral da sua escolha. Eu usei clear blue Tamiya diluído com Thinner 237. Independente de qual verniz você escolha, aplique-o de forma muito bem diluída e em camadas finas e uniformes, até que se alcance a tonalidade desejada. A secagem desses tipos de vernizes pode gerar algum estresse. Minha dica para que você não precise esperar horas entre uma camada e outra secar é a seguinte: Force a cristalização do verniz utilizando secador de cabelo. Cuidado com a potencia do secador. Muito calor pode deformar a camada de tinta ou até mesmo o plástico do modelo.





























6- Encerre o acabamento polindo com pouca massa ou, caso o resultado já tenha apresentado brilho, somente com uma boa cera automotiva, dessas de fácil aplicação. Eu recomendo a cera de carnaúba com silicone, achada facilmente em supermercados, ou a cera da tamiya.

Vá com calma nessa técnica. Faça tudo sempre com calma e bastante limpeza. Teste suas cores antes e se possível, treine em cobaias. Seguindo direitinho as dicas que acabei de passar, você irá conseguir replicar nos seus modelos.
              Até a próxima aventura modelistica!


























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