segunda-feira, 22 de julho de 2019

Kit Classico: Stuka B (Regia) Hasegawa 1/48




Puxamos do armário um clássico dos anos 90 e requentamos com técnicas modernas de montagem.


Se você já é plastimodelista há algum tempo, muito capaz que você tenha em casa, num armário onde a patroa/mãe/sogra mexe pouco, uma pequena reserva técnica de kits. Na minha vida toda como modelista, conheci somente uns dois deles que possuem somente aquilo que estão montando no momento. Agora, modelista com estoque maior que loja, que tem estoque para umas 3 vidas de modelismo ou mais, desses eu conheço um monte. ..

Faz parte do hobby a coleção. Eu mesmo adoro comprar um kit novo, me encher de planos para montagem,  e tranca-lo no armário sem muitas esperanças de que haverá mesmo uma montagem. 

Devido essa peculiaridade do hobby não é anormal um kit ficar anos, e até décadas na fila aguardando sua vez. Inevitável também que modelos fiquem defasados. Aquele modelo top de linha dos anos 90, tem hoje um rival mais detalhado e bem injetado. Então o que fazer com esse modelo antigo na pilha do armário? Não estou falando daqueles muito clássicos e raros dos anos 60 e 70, que valem uma boa grana na caixa e nada na bancada. Mas sim, estou falando daquela época dos 80 e 90. A época mais fértil e abrangente do Plastimodelismo. As marcas possuíam bons portes em tamanho e uma concorrência feroz, brigando por uma clientela robusta,  mista entre os veteranos da primeira geração, e novos modelistas atraídos por comerciais de tv e ofertas regulares de modelos em lojas de brinquedos, essas também muito mais numerosas a época.

Foi nessa época que o Plastimodelismo ganhou o nível de profissionalismo que temos hoje, um hobby sério e não tão lúdico como nos anos 60. Essa época gerou excelentes kits, e a grande maioria deles envelhece muito bem. A ideia é simples, pelo menos no Plastimodelismo funciona : Se era bom a 20 anos atrás, ainda será bom hoje, mesmo que exista uma nova opção que seja melhor.

Soma-se a isso, kits dessa época hoje perdem seus valores comerciais na mão de colecionadores, isso significa que um "antiguinho" pode ser além de tudo um bom negócio.

Mais um ponto a favor de um clássico : quanto mais tempo de mercado, mais afters, correções, resinas, folhas de decais e coisas do tipo. Prato cheio para quem gosta de incrementar modelos, como eu.

Um bom modelo tem uma sobrevida comercial quase indeterminada, e muita coisa ainda dá pra aproveitar e extrair algo legal acima de tudo. Porque não trazer esse "antiguinho" para um cenário moderno, com técnicas recentes que não existiam a época do seu lançamento?

É o que fiz com esse stuka. Morador do meu armário a mais de dez anos. Um dos queridos da minha coleção. Chegou a hora de transformar esse projeto em realidade. Numa época em que os apreciadores de stuka estão de lua de mel com o novo modelo da Airfix, eu parti pro meu Hasegawa classicão dos anos 90.


Unboxing

O modelo vem da época de ouro da marca japonesa. Época essa em que ela brigava com unhas e dentes contra a conterrânea Tamiya, e quase não havia diferença na qualidade entre elas. O kit é de uma época em que os "baixos relevos" se tornavam obrigatórios em novos modelos. Algo que havia na época que me agrada muito: o modelo não possui overparts. O número de peças do modelo é o número que o modelo precisa ter, e tudo que pode vir junto numa peça só sem atrapalhar a arquitetura ou os detalhes do modelo, virá junto.

Levando em conta a época do modelo, o kit é uma mistura de simplicidade com riqueza de detalhes. Scribes finos, poucos rebites. O plástico já está um tanto endurecido e empenado pelas tantas estações ressecando e deformando no armário. Outro detalhe que apresenta sinais do tempo são as decais, outrora feitos na melhor e mais delicada técnica gráfica, hoje estão ressecando e amarelando, e deram um trabalhinho na hora de montar.

Somados ao bom kit da hasegawa, ele foi incrementado por um lindo e detalhado set de interior Aires,  com assentos Quick Boost (marca aires também), rodas de resina e mascaras pré cortadas da Eduard.






modificação feita nos atuadores originais do modelo






Todas essas peças de resina deram trabalho na instalação. Mas isso é o esperado para esse tipo de material. Temos a falsa impressão de que, por ser extremamente detalhado, as coisas entraram no kit de forma fácil, plena e intuitiva. Mas engana-se. As belas rodas em resina, vem sem o encaixe para se adequar ao modelo. O interior da aires vem todo numa resina mole e bastante empenada, além de gordurosa, com um manual horrível de se orientar e indicações de montagem absolutamente erradas. Somado a isso, os assentos da quick boost vem com rebarbas do molde horrorosas. A utilização de resinas e photoecheds sempre necessitam de um modelista experiente, com malícia e jogo de cintura para a montagem, pois quase sempre irão dar trabalho na hora da instalação. Fique atento a isso, e não se constranja se você por acaso gastar duas ou três vezes o valor de um modelo numa set de resina, e achar que ele é uma porcaria mal feita. É assim que essas coisas funcionam. 







Dicas importantes: Tirando um kit da coleção depois de muito tempo.





Você também tem planos de tirar um modelo de mais de dez anos de guardado para montar? Fique atento a alguns aspectos importantes no seu modelo para evitar surpresas:

1- verifique as peças. As vezes seu modelo tem uma história extensa, dentro e fora da sua coleção, as vezes morando em diversas coleções de modeliatas diferentes. As vezes algum deles pode ter tido a curiosidade de ter mexido ou começado algo. Por isso é sempre bom verificar as peças do modelo para dispor de uma eventual substituição.

2- cuidado com o plástico: dez anos guardado significa que seu modelo ja passou por dez verões e dez invernos deformando na caixa. Problemas de umidade relativa, mofo, maresia e infiltrações podem agravar a oxidação do plástico. Resultado disso será um plástico mais duro, mais frágil e quebradiço, mais sensível a colas e solventes, alterações na coloração e o principal, acentuação de empenos. Tome cuidado

3 transparência amareladas: assim como o estireno no item anterior, as transparências de acetato, acrílico ou policarbonato podem amarelar. Em plásticos mais duros e grossos, esse problema pode ser apenas superficial, resolvidos facilmente com um polimento adequado. Transparências também ficam mais quebradiças com o passar dos anos.

4 decais : assim como os itens anteriores, a decal sofre bastante com o envelhecimento e ressecamento, perdendo suas características, coloração e se tornando quebradiço. Alem disso, a decal sofre com mofo e bolor. Se os problemas forem pontuais, deixar a decal descansar sobre o sol das primeiras horas da manhã e revesti-lo com um verniz fotográfico pode resolver seus problemas. Mas a recomendação é que se você não for com a cara da decal, a comunidade de micro organismos dela está muito grande, ela está dura feito um papelão ou com as cores muito alteradas, arrume um decal novo para você.


Aplicando o chipping com sal e spray de cabelo:

Essa é uma técnica bastante recente no plastimodelismo, e sempre foi utilizado com mais intensidade pelos modelistas de militaria ou de carros para representar ferrugem e abandono. Mas o chipping pode ser usado em outras oportunidades, sempre que você quiser representar algo que esteja perdendo sua coloração, e deixando amostra a superfície ou cor de baixo. É justamente isso que a palavra “Chipping” significa na língua inglesa. Então irei ensinar como se executa esse efeito.
Ele não é um efeito dos mais difíceis de se executar, podendo ser experimentado por modelistas não tão experientes. Só é necessário um bom planejamento para executar o efeito, afinal vc começa a fazer o efeito nos primeiros passos da pintura para que ele apareça somente no final. Então vamos a sequência.

base em alumínio para pintura
1-    Preparação da superfície: Além da tradicional funilaria de sempre, essa técnica pode exigir muito da resistência da camada de pintura. Então é preciso estar atento a qualidade do acabamento e da aderência de suas camadas de tinta desde a primeira mão de primer. Aplique pouco primer, não deixe uma camada muito grossa, pois o primer gera uma natural ruides na pintura, e quanto mais áspero o primer, mais fragil será sua aderência ao plástico. Se no chipping você for utilizar cores metálicas (como no stuka que ilustra essa matéria), fique à vontade para usar o primer preto de sua preferência.
junções de placas em rlm 02

2-    Cubra com a base de acordo com seu projeto. Tente estudar o processo de pintura do veículo original antes de replica-lo. Veículos de combate alemães recebiam como primer na segunda guerra, um produto parecido com o nosso conhecido zarcão, que da aquela cor características de vermelho oxidado, mas aquilo não é ferrugem, tome cuidado. Se sua intenção for veículos de combate da segunda guerra, lembre-se de que eles eram feitos de bons aços, revestidos com anti-oxidante, e tinham um tempo de vida muito pequeno entre a fabricação, utilização e morte por danos ou por aposentadoria programada mesmo, como em veículos americanos. Ou seja, se o veículo não está “abandonado” por anos no seu projeto, e você está representando um veículo em combate, provavelmente ele não tem ferrugem. É mais comum achar ferrugem em veículos soviéticos do final da guerra fria do que em veículos da segunda guerra. Em aviões lembre-se que não há ferrugem, pois eles são em sua grande maioria feitos de alumínio, que oxida mas de forma diferente. E antes de querer representar o alumínio exposto do seu avião, lembre-se também que eles possuíam camadas de primer e anti-oxidantes de alumínio, variando entre verde interior e amarelo zincromate dos aliados, ao anodizado azul dos japoneses e do revestimento epoxy cinza claro (rlm 02) dos alemães.



3-    Antes de aplicar o spray de cabelo, eu recomendo uma mão de verniz brilhante. Isso para dar um pouco mais de altura para a camada de pintura. Os esforços que virão a seguir nessa técnica podem afetar também a base que vc escolheu. Um verniz para ajudar na proteção pode vir a calhar. E não seja apressado. Deixe esse verniz secar umas doze horas.
pode parecer, mas não é um pre-shadding. Essas linhas de rlm 02 sob o aluminio irão aparecer após o shadding.


efeito do shipping na barriga do avião
parte de cima da pintura antes da remoção da tinta: aspecto de aspereza
graças ao sal somado na pintura
4-    Hora de aplicar o Spray de cabelo e o sal. Spray de cabelo, o famoso “laquê da vovó” que vc acha em qualquer farmácia. E o sal, recomendo misturas sal refinado, sal moído e sal grosso, para gerar maior irregularidade no efeito. O spray vc vai vaza-lo num potinho e aplicar com um pincel, ou então pode até despejar num aerógrafo, mas nunca use direto o spray da lata. É muito pouco preciso e fara muito estrago. Aplique o laquê no local onde haverá a descamação e na sequência, enquanto ele ainda está úmido, com um pincel com ou com uma pinça, você aplica o sal. Importante respeitar essa sequência pois o laquê seca bem rápido, e se ele não estiver úmido, ele não segura o sal.
inicio da remoção da tinta

5-    Aplique sua pintura na sequência da forma que estiver acostumado. Tintas a base de água se comportam melhor nesse efeito do que tintas a base de thinner como as automotivas. Nessas, será mais difícil retirar o sal depois pois elas selam melhor e não se sentem incomodadas pela água. Mas mesmo assim, é possível de fazer com alguma paciência. (No avião que ilustra a matéria, foi utilizado duco da Pr-colors a base de Thinner)

6-    Com agua, pincel de cerdas duras e lixa de polimento, você inicia a retirada do sal. Esse técnica deixa um pouco de textura do sal, para militaria e ferrugem, essa textura é interessante, mas para aviação nem tanto. Por isso as vezes é necessário um polimento a lixa para retirar todos os grãozinhos de sal da pintura. Se vc pretende fazer outros efeitos na pintura como shadding, recomendo que faça antes de retirar o sal.   


Daí pra frente vc segue a montagem do seu modelo da forma como estiver acostumado.

Nota: Eu falei do spray de cabelo, mas talvez você já tenha reparado que as marcas Mig e AK tenham lançado alternativas ao spray de cabelo. Eu já tive a oportunidade de testar ambos. Eles são realmente muito bons, vem com a “força de fixação” bem medida para nosso uso e nos evitam o constrangimento de roubar o spray de cabelo da nossa avó. Mas a eficiência deles é exatamente a mesma do spray de cabelo, com a desvantagem para nós do preço que esses produtos chegam aqui, e mais que isso, a dificuldade de se encontrar. Mas se você tem disponibilidade de encontrar e comprar, eles são melhores que o spray. Não muito melhor, só melhor... 









acabamentos com muitos efeitos são bonitos mas podem não condizer com a realidade. A pesquisa e as referencias
são importantes. Nesse modelo fui buscar referencias em livros italianos bem raros por aqui