Vivemos uma época de
consumismo um tanto quanto exagerado. Não vou entrar no mérito
disso, nem dissertar sobre se é certo ou errado... essa minha coluna
aqui não serve para isso. Apenas constatando um fato. O mundo vive
uma época de consumismo exagerado, e ponto. No nosso hobby, não
poderia ser diferente.
Não, não estou
falando dessa coleção enorme de kit que você tem no armário, que
precisaria viver mais umas duas vezes pra conseguir montar tudo.
(você não é assim? Pois eu sou!) Isso é coleção, não
consumismo. Pode parecer a mesma coisa, mas não é. Mas sobre isso
falarei em outra ocasião.
Gosto sempre de chegar
onde eu quero dando exemplos e experiências próprias, e é assim
que vou começar no assunto de hoje. Eu sou um adepto do washed com
tinta óleo, essas de quadro mesmo. Foi assim que eu aprendi, é
assim que eu ensino, muita gente usa e o resultado é muito bom.
Certo dia, recebi de um amigo um dvd de técnicas e dicas desses
modelistas “mitológicos” que tem por aí. O cara realmente é
bom, mas extremamente exagerado, principalmente nos modelos dos
vídeos, afinal o exagero na tela fica mais visível, mais fácil de
aprender, e ouvindo com calma a narração do vídeo, pode perceber
ele relatando esse exagero proposital. Mas em fim... Entre uma
técnica e outra, muitas eu já conhecia, outras realmente eram uma novidade
para mim, e chegou a hora do washed. Ele usava exatamente a mesma
técnica que eu! A mesma mistura de cores, o mesmo pincel... tudo
igual, ou melhor, quase tudo. Na hora da limpeza do washed, veio a
dica:
- Para um melhor resultado, utilize o limpador de washed da marca X, especialmente desenvolvido para o plastimodelismo...
Bom, como eu estava
gostando do vídeo, mesmo achando tudo exagerado, mas muito didático,
me interessei por aquele produto. Achei que realmente faria toda a
diferença...
Passado um tempo, eu
consegui o tal produto, um amigo me trouxe junto com outros produtos,
e me lembro que não foi barato. Passado mais uns dias apareceu a
oportunidade de experimentar o produto pra valer, e aposentar a água
rás que eu usava antes para limpar o washed. Mas para minha surpresa... Aquilo era água rás. Cheirava a água
rás, agia como água rás... mas não custava como água rás.
Foi nesse momento que
“minha ficha caiu”.
O produto da marca X,
estava no dvd da Marca X, editado e narrado pelo senhor X. Eu caí na
conversa do fabricante...
Comecei a ficar mais
cético com os fabricantes desde então, e como modelista
profissional, eu comecei a olhar por um novo prisma e entender o que
os fabricantes fazem.
No final dos anos 90 e inicio dos anos 2000 o
modelismo amargurava uma enorme crise. Tudo parecia ser mais legal
que o modelismo, e o número de praticantes despencou
vertiginosamente. Em uma época que fabricantes de kits só faziam
kits, ferramentas e produtos muito limitados e improvisados , apenas
um pequeno secto de modelistas se manteve fiel ao plastimodelismo,
muitos debandaram dos kits para os videogames e internet, novos
modelistas então, nem pensar.
Num ato de
sobrevivência, os fabricantes se agarram aos poucos, porem fieis
clientes e criaram uma politica de “criar aquilo que eles ainda não
tem” para terem o que vender. Uma nova onda de kits modernos,
produtos exclusivos e uma novidade atras da outra no mercado de
ferramentas e insumos trouxe o plastimodelismo ao século XXI. Criar
aquilo que o modelista que já tivesse tudo ainda não tinha. Com
isso, o modelismo perdeu quase que por completo a imagem lúdica e
inocente, e adotou a imagem artística profissional que temos hoje.
Some isso a explosão
de modelismo na china, que criou um mercado gigantesco de kits
medianos em qualidade, e a baixo custo, e ao fenômeno das redes
sociais, responsável por trazer novos modelistas todos os dias, e por
conectar artistas pelo mundo todo. Assim o modelismo sobrevive e prospera
no século. Mas ele ganhou essa característica um tanto quanto
controversa: Vender algo novo para um modelista que já tem tudo!
Eu me encaixo nessa
categoria de modelista que tem tudo. Eu tenho muitas coisa, sempre houvi de amigos
“nossa chiquito, quanta coisa você tem”. Também conheço muito
gente na mesa situação que eu. Sempre que estou nas lojas e eventos
em busca de novas ferramentas e novos produtos... adoro isso! Mas nem tudo
que reluz é ouro.
Tenho percebido muita
porcaria vindo nos rótulos das marcas mais famosas. Ou produtos de funções
completamente dispensáveis. Algumas coisas são meros mimos, pra não
dizer frescura. Como esse “limpador de washed” que não passa de
água rás, ou então a cestinha de decal que não deixa a decal
flutuar, assim como um pote com pouca água já faria, ou então
colas para transparência em embalagem bem caras, que funcionam
exatamente igual a colas brancas escolares.
Mas acredite, eu gosto
desses mimos, acho interessante até, tenho e uso os três exemplos
citados. O que me incomoda é aquilo que não presta, vendido como a
solução, as tais porcarias em rótulos importantes que eu citei
anteriormente. É o que eu chamo de “plastimodelismo caça-níquel”.
Washed acrílicos que secam e borram os modelos sem chance de
correção... produtos químicos para mais diversos efeitos que
dificultam e encarecem a montagem dos modelos e que sempre há uma
alternativa mais barata ... ferramentas que não cumprem o prometido... e etc...
Os fabricantes estão
de olho em nosso dinheiro. É importante ter isso em mente quando
estiver escolhendo um produto novo para comprar. Eles não se
importam muito com o resultado do seu kit ou se o produto deles está
funcionando legal na sua mão, como no dvd ou no livro. O produto estando
na sua mão, você já gastou seu dinheiro, já tá bom! É logico
que existe muita técnica nova por aí que precisa de novas
ferramentas, mas em muitos casos, é apenas a reinvenção da roda.
O importante é ter
discernimento na hora da compra. Ouvir a experiência dos outros,
pesquisar sobre o produto e pesar se vale mesmo a compra de tal item.
Principalmente agora que estamos numa época difícil de finanças,
não podemos perder nosso suado dinheiro com produtos de grife que
não irá nos ajudar.
Mas evitem ser
praticantes do modelismo pau-a-pique também, o outro extremo do modelismo, o "pão durismo" exagerado. Coisa boa é coisa boa, e coisa boa tem seu preço. As vezes um pouco caro, é verdade, mas existe um meio termo entre o simples e o exagerado, mas isso é
tema para outro post...
Lembrem-se que talento
e experiencia não se vendem em embalagens. Usar o produto do
Modelista X, sem o preparo do Modelista X, não vai deixar seu kit
igual ao dele. É preciso ralar bastante, errar algumas vezes,
perguntar bastante, as vezes pagar um curso para poder chegar no
nível que você quer.
Lembre-se também que
o plastimodelismo já era praticado em alta qualidade muito antes
desses produtos todos invadirem o mercado. Somos apenas uma categoria
de arte, e a arte está aí desde que o homem se entende como homem,
e algumas soluções que procuramos para nossos modelos já existem
em outros ramos da arte. Eu questiono muitas vezes se o modelista X
usa mesmo seus produtos quando ele não está fazendo um livro ou um
dvd, ou como bom modelista que ele é, se ele sabe muito bem se virar
sem os “mimos” que ele criou para vender... sera?
Duvidas, criticas e
sugestões escreva para mim, no budiv8@bol.com.br,
no www.blogdochiquito.blogspot.com
ou no www.facebook.com/blogdochiquito
Um abraço a todos e
até a próxima.
2 comentários:
Fiquei impressionado com sua sinceridade. Tenho recomeçado meu hobby há muitos anos parado e senti exatamente isso. Muita frescura em coisas que já fazia sem muito material mas com improvisação e criatividade. Não devemos esquecer do prazer antes do resultado
Isso é hobby... Paixão
Dauro Lúcio Rocha
Fiquei impressionado com sua sinceridade. Tenho recomeçado meu hobby há muitos anos parado e senti exatamente isso. Muita frescura em coisas que já fazia sem muito material mas com improvisação e criatividade. Não devemos esquecer do prazer antes do resultado
Isso é hobby... Paixão
Dauro Lúcio Rocha
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