Projeto Gloster Meteor
TF-07 FAB
problemas com gap e folgas em quase todo modelo |
Tentativas de desempenar a fuselagem |
Todo mundo que já
montou um kit em resina, sabe o tamanho do tormento que é.
Sinceramente é difícil de dizer o que acontece... No mercado
existem um milhar de sets de resina para melhoramento de kits, e a
grande maioria é muito boa, mas os fabricantes tem uma enorme
dificuldade em imprimir essa qualidade quando se trata de um modelo
inteiro. Existem os bons kits de resina? Sim! Mas para cada kit bom
em resina, existem outros 10 que não valem o peso deles em epox...
Kit feito em vários tipos de materiais. |
Primer PU bem caprichado |
Pois bem, me deparei
com um modelo desses... Fui procurado para executar um projeto lindo,
uma belíssima homenagem a um piloto brasileiro, pioneiro nos
Glosters Meteors no Brasil. O projeto incluía o avião e um
belíssimo diorama a ser confeccionado baseado em uma foto de época,
tudo na escala 1/72, minha escala “queridinha”. Mas nem tudo são
flores... A beleza desse projeto parava no kit disponível. O meu
contratante apareceu com o Gloster Meteor Tf-7 da nacional commando
5.
Pre-shadding com preto acrílico antes do alumínio |
O kit é um “short
range” de péssima qualidade. Ao avaliar o projeto, deixei bem
claro ao meu cliente que algumas falhas do modelo seriam corrigidas,
mas não todas, pois isso beiraria o impossível, e o preço final do
projeto seria impensável para um modelo 1/72. Tirando esse detalhe
menor, o modelo poderia sim ser executado.
Na minha humilde
ignorância eu pensava que havia chegado no ápice da ruindade em um
kit quando montei o Sr-72 1/48 da Testors. Mas esse supera qualquer
coisa... Não houve uma peça sequer no kit que não precisou ser ou
corrigida, ou consertada, refeita, ajustada, ou ambas... nenhuma!!!
alumínio extra fino aerotech |
A fuselagem envergada
sofreu os mais absurdos e enigmáticos métodos de endireitamento...
quase em vão... A escolha da resina para as copias não foi a melhor
sem duvida. O material é poroso, cheio de bolhas em lugares
importantes, muito frágil em alguns pontos mais finos, difícil
mesmo de lidar. A ruindade da resina quase ofuscaram a tortuosidade e
falhas dos trens de pouso em metal (chumbo). Mas não conseguiu
disfarçar a ruindade da transparência! Afff... o que era aquilo????
A parte mais delicada do kit veio totalmente envergada, e quase não
deu para aproveitá-la. O arremate da peça precisou ser enorme! Mas
antes de me entrever com a transparência, as duas metades da
fuselagem já haviam dado um show de ruindade. Alem da tortuosidade
já relatada, as metades vieram com um gap entre elas que em alguns
pontos chegou a mais de 5mm (!!!!!), sendo preciso enxertar muito
material. Nada de massa ou puty, foi tiras de estireno, cola de fusão
e muito bonder!
figuras preiser 1/72 modificadas |
Um kit com tantos
problemas, é até difícil tirar alguma coisa dele... A pintura lisa
no alumínio penou para sair, e nem de longe é o melhor trabalho em
alumínio exposto que eu fiz. A pintura teve uma camada bastante
generosa de primer poliuretano, já que além do kit ser de resina,
partes do avião eram feitas em resinas diferentes, uma vermelha mais
fina e quebradiça, e outra azul, mais solida e dura, mas com muitas
bolhas, e ainda as peças em chumbo mole.
A pintura foi feita
com alumínio extrafino acrílico da Aerotech, com aplicação de um
pré-shadding antes da aplicação do alumínio.
Mas o resultado final
ficou interessante! Particularmente gostei do resultado final do
diorama. As figuras foram feitos a partir de figuras da Preiser, o
cenário foi feito com estireno e isopor. O acabamento das bordas foi
feito com massa para modelar, cores cinzas e washed. Espero que
gostem!
Sobre o Gloster
Meteor:
Já ao final da
primeira guerra mundial, os engenheiros e pilotos já experimentavam
as limitações da propulsão a hélice nos aviões, e desde os anos
20 engenheiros aeronáuticos civis e e militares já repensavam novas
formas de propulsão para os aviões. Embora as ideias tendenssem à
época para a propulsão a foguete, alguns engenheiros trabalhavam de
forma paralela em um novo formato de motor que misturasse o conceito
de combustão interna e propulsão por exaustão de gases em alta
velocidade.
Esse é um dos casos
em que engenheiros diferentes em países diferentes, trabalhando em
paralelo, chegavam as mesmas respostas ou a soluções muito
parecidas. Era o caso do jovem engenheiro britânico Frank Whittle,
que desenvolveu um projeto de motor onde uma série de hélices
confinadas geravam o propulsão, e o que movia essas hélices seria
uma turbina a gás. (Quem entende de motores a jato deve ter notado
que este é um esquema muito parecido com o que é um motor a jato
hoje em dia). Whittle ofereceu sua patente ao comando da RAF em troca
de patrocínio para o projeto, mas isso não aconteceu de início, e
Whittle acabou fundando sua própria companhia, a Power Jets Ltd.,
para poder desenvolver sua tecnologia.
Mas na segunda metade
dos anos 30, com a eminência da guerra, e com os Alemães próximos
de alcançarem a propulsão a jato, além de EUA e URSS também
estudando a propulsão a reação, a RAF começou a olhar para
Whittle com outros olhos. Seu escritório ganhou não só o
patrocínio real, mas recebeu um pedido de um protótipo para testes
até o final da década. Com o “Motor Whittle” pronto, o projeto
foi entregue a Gloster Aircraft Co para o desenvolvimento de uma
aeronave. Em 1941 voou pela primeira vez uma aeronave a jato nos
moldes que conhecemos hoje, o Gloster E28/89, uma pequena aeronave
experimental movida por um motor Whittle. O avião obteve bons
resultados nos testes, principalmente em aspectos onde as hélices
convencionais ainda falhavam, como altas altitudes e velocidades
acima de 350 mph.
Em 1942 a RAF
encomendou a Gloster e a Whittle um avião que utiliza-se tais
tecnologias empregadas na aviação de caça, já que os boatos de
que a Alemanha estava muito próxima de seu caça a jato 262 (que
depois, viria ter seu lançamento atrasado pelo próprio Hitler num
erro estratégico). Desta demanda nasceu o Gloster F9/40, o
protótipo do que viria ser o Meteor F 1, um robusto caça movido por
dois Jatos Whittle embutidos nas asas. A arma para desafiar os 262
chegou tarde em operação, apenas no final de 1944, e com a guerra
tomando a proa final dela, o alto comando da RAF usou de muita
cautela no Meteor com medo de expor seu projeto secreto ao inimigo.
Os F 1 ficaram confinados ao território britânico, e as poucas
unidades fabricadas serviram para adaptação dos pilotos para novas
tecnologias (prevendo que o futuro da aviação estava na propulsão
a reação) e na nobre função de patrulha contra os misseis V-1. O
Gloster era o único aparelho britânico capaz de interceptar os
foguetes alemães, sua eficiência era muito menor do que o aumento
da moral na população civil e nos militares que tais interceptações
causaram. Curioso salientar que o primeiro (e o segundo e depois
alguns outros) V-1 abatido por um Gloster foi derrubado não pelos
canhões do avião, que haviam travado, e sim com uma manobra onde o
piloto moveu a ponta da asa de seu Gloster Meteor F 1 bem próximo a
asa do foguete V-1, causando uma leve instabilidade no foguete, o
suficiente para embaralhar o sistema do giroscópio do foguete e
fazendo com que ele caísse bem longe de seu alvo...
Seu uso na guerra foi
muito pontual, e seu sistema a propano havia falhado pouco, mas
incomodava o comando da RAF, que acabou entregando as patentes de
Whittle a Rolls-Royce para que ela produzisse um motor mais barato,
eficiente, de maior produção e que usasse combustíveis
convencionais. A segunda versão do Meteor, a F 3, ganhou o novo
motor modificado, parecido com os esquemas originais de Whittle, mas
agora o motor era movido a querosene de aviação, e havia ganhado um
saída de exaustão maior e mais alongada. Essa mudança tornou o
avião mais prático e usual, totalmente inserido no cenário dos
motores a reação até hoje, e foi importante para a importância
que o avião teve na sua carreira no pós guerra.
O Gloster Meter se
tornou o grande avião “faz-tudo” da RAF nos anos 40 e 50. Foi o
principal treinador de pilotos para a nova tecnologia, um excelente
avião de reconhecimento e ataque ao solo, cobaia para testes de
aviões a jatos em diversos usos, como os que testaram os pousos de
jatos em porta-aviões, os que testaram o sistema de propulsão a
turbo-hélice, os que testaram os sistemas de acentos ejetores e
etc... Houve também os modelos “narigudos” que eram equipados
com os mais potentes sistemas de radar da época. Sua versatilidade o
levou ao mundo todo, e se tornou um item de exportação para vários
países que se aproveitaram das vantagens do Gloster Meter para
desenvolverem a aviação a jato em seus países.
Meteor no Brasil
O Brasil é um desses
países que adquiriram o Gloster meteor nos anos 50. Todos os países
que quisessem adquirir as versões de caça do Meteor como o F 8, a
Gloster e o governo Britânico oferecia um pacote que incluía
unidades da versão treinadora de dois lugares, o T 7. Com o Brasil
não foi diferente. Os Glosters Meteor vieram de uma negociação
como o governo Britânico, e foram pagos aos ingleses com commodities
bem Brasileiras, como madeiras nobres da amazônia e algodão
cultivado no paraná. As primeiras unidades foram entregues em 1953,
e voaram até meados de 1971. Como em outros lugares do mundo, sua
principal função no Brasil era a vigilância do espaço aéreo,
reconhecimento e ataque ao solo, mas o que o Meteor foi bom mesmo foi
na introdução da força aérea brasileira a essa nova realidade que
é a propulsão a jato, até hoje por sinal, e preparou pilotos e
mecânicos para as novas tecnologias dos séculos XX e XXI. Mas logo
o Meteor, um projeto dos anos 40 reciclado, ficou obsoleto, tanto na
sua performance quanto no seu Layout de motores embutidos nas asas,
suas asas convencionais com diedro positivo e sem enflechamento e sua
deriva esbelta, não condiziam mais com os novos aviões em delta,
motores enormes dentro das fuselagem, derivas robustas e velocidades
muito além das do som... Cumprindo muito bem suas funções nos anos
50 e 60, o Gloster Meteor F8 e seu treinador TF 7 (a versão do
diorama) deixaram a cena de forma elegante, como todo Britânico,
para os novos equipamentos como o F-5, Mirage, Amx e outros...
"Olha a foto!!" |
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