O clássico
avião de observação dos anos 50/60 ganha seu primeiro kit de qualidade na
escala 1/48
(texto editado em janeiro 2017)
Interior simples e funcional |
O blog do
chiquito e a revista Hobby News trazem em primeira mão essa novidade do mercado
do plastimodelismo, uma nova marca de kits que debuta nas lojas, a TanModel, da
turquia. Se você se espantou com uma marca turca de plastimodelismo, pois bem,
eu também me espantei. Mas a Turquia, que não tinha uma marca de grande
penetração no mercado ainda, tem um classe modelista bem robusta, com grandes
eventos e opens, além de uma tradição militar muito grande, com veículos
militares de produção própria além de utilizar clássicos dos arsenais
americanos e europeus, como é o caso do Rf-84 Thunderflash. Ingredientes esses
ideais para surgimento de boas marcas de modelismo, e a TanModel que eu me
lembre, vem a ser a primeira do país.
Esse kit foi para mim um grande laboratório de testes para as novas tintas Xtreme Metal AK |
A marca tem
como objetivo primário, alcançar o público local, com modelos referentes a
história militar turca, mas com kits de boa qualidade e com o maior número
possível de versões para atingir o segundo alvo, o mercado internacional. A
marca por enquanto possui dois modelos disponíveis apenas: Um simpático avião de treinamento de
fabricação turca, muito semelhante ao nosso tucano, na escala 1/72, e o Rf-84
thunderflash na escala 1/48, um avião de fabricação americana mas com um
histórico interessante na força aérea turca. (Notas do editor: Após a edição
desta matéria na edição de janeiro de 2017 da revista Hobby News, a marca TanModel
ampliou seu catalogo. Vale a consulta no site deles).
Como base para comparação, em alguns momentos do kit eu utilizei a velha conhecida acrílica Pr-colors. |
Esse avião
tem uma considerável importância histórica, e faltava um bom kit dele. Será que
agora temos? Vamos avaliar...
Unboxing: As primeiras impressões.
Como um bom
modelo moderno que se preste, o kit precisa impressionar mais na caixa que nos
encaixes, e isso o kit acerta bem. Os impressos das caixas, manuais e decais
são todos feitos pela cartograf, uma gráfica italiana especialista em fazer
modelistas satisfeitos. O manual é todo feito em autocad, refletindo em cores
desenhos digitais originais do projeto do modelo, num primeiro momento me
pareceu uma excelente opção, mostrando sempre aspectos reais do modelo, mas
durante a execução, não funcionou tão bem como esperava, assim como a folha de
decal enorme e bem impressa, mostrou-se boa porem um tanto grossa.
Interior "out of box" antes de ser fechado. Bastante espartano, com margem para melhoras. |
O kit tem
suas linhas de painéis muito delicadas, por muitas vezes um tanto apagadas, e
irregulares em alguns pontos, demonstrando um aspecto meio esquisito num olhar
mais clinico, mas no final tudo funciona, assim como o plástico escolhido,
bastante rígido e resistente.
Pastel fechado: Tudo para dar errado, mas acaba dando tudo certo! |
Itens comuns
em modelos recentes não se encontram nesse modelo, como photoeched de fábrica,
mas o fabricante nos presenteia com uma cartela em vinil com mascaras
pré-cortadas para canopis e janelas que funcionam de forma eficaz.
Detalhes dos intakes de ar, |
Montagem.
A montagem
começa com surpresas ruins. Os encaixes das peças são falhos, algumas peças do
interior simplesmente não têm encaixe, todos as peças com encaixe tipo
pino/buraco necessitaram ajustes, em todas as etapas. As marcas de injeção
aparecem em profusão, muitas delas em lugares visíveis no modelo. É preciso
ficar atento com isso, principalmente em peças do trem de pouso e do interior
da cabine.
O modelo se
presta a ter um eficiente e completo conjunto de detalhes do interior,
incluindo as câmeras de foto e vídeo (que são o diferencial do modelo de
observação), mas tudo acaba vindo de forma espartana, com poucos detalhes, não
funciona legal... mas é um prato cheio para alguma marca que se interesse em
lançar uns upgrades para ele.
No final,
aquele kit todo recheado acaba fechando bem (ufa...), todos os detalhes do
interior acabam se ajustando bem na hora de fechar a fuselagem. Pelo menos no
aspecto funilaria, o kit foi muito bom. O que não funciona bem são os encaixes
dos profundores na deriva, muito delicados e propensos a quebra.
O trem de
pouso vem com um número razoável de detalhes, mas seus encaixes são falhos,
necessitam ajustes, principalmente os dois traseiros. A caixa de trem de pouso
é outro detalhe importante, me pareceu rasa demais, o trem de pouso nunca
caberia ali dentro.
Processo do "Blue Basing" |
O que eu esperava
ser crítico no modelo acabou sendo um problema menor. Geralmente os fabricantes
se atrapalham com a arquitetura dos kits quando esses possuem os bocais de
admissão do motor junto a raiz da asa (como no classico Hawker Hunter 1/32 da
revell, e nos f-105 thunderchief da monogran). Houve problemas nesse item no
kit da TanModel, mas os ajustes a serem feitos são simples, muito mais simples
do que eu esperava que fosse. As superfícies moveis do avião, aelerons, flaps e
leme, funcionam legal, sem observações, assim como o freio aerodrômico na
lateral da fuselagem.
Os canopis
tem boa injeção, com relevos e rebites, complicado de instalar, mas devo isso a
arquitetura do avião, não do modelo.
Como dito
anteriormente, a decal é de excelente qualidade na impressão, mas o filme
poderia ser um pouco mais fino e melhor delimitado, visando os optantes pelas
versões em alumínio que ressaltam demais o filme do decal.
Processo de criação de varias tonalidades do alminio |
Críticas
feitas, meu dever aqui apontar o que poderia ser melhor no modelo, mas falando
sinceramente, o modelo apresenta uma montagem simpática e simples,
principalmente após o fechamento do interior. Não achei o kit difícil, ele tem
uma montagem simples, bem ajustada e projetada, e bastante divertida. As falhas
listadas, nenhuma é grave, tudo contornável, talvez o porão do trem de pouso
seja algo que não dê para arrumar, necessite de um upgrade de resina, isso se
você for dos que ligam para essas coisas.
Achei o
modelo muito válido, é sim opção para quem quer fazer um clássico da aviação de
reconhecimento, e não vejo objeções para modelistas com pouca experiência. O
modelo ganha um porte bem bonito após montado, e a montagem preserva bem todos
os detalhes que a marca imprimiu em suas peças.
O importante
é ressaltar mais uma boa opção de marca no mercado. O kit não me pareceu nenhum
espetáculo, mas está na média, ou um pouco acima, do que se espera de um kit
comum lançado em 2015. A marca almeja lançamentos promissores. A grande maioria
de kits “prometidos” pela marca tem relação com a história da aviação turca,
que sempre foi recheada de aviões clássicos, então a marca já promete um novo
F-4 Phantom da escala 1/32, novos f-5 (de olho nesse, a Turquia usou versões de
F-5 semelhantes às do Brasil) e F-16, além de drones modernos e equipamentos
militares terrestres. Se a marca vingar de fato, e assim torcemos que aconteça,
irá inflar o mercado com novos clássicos e algumas novidades, mas desde 2015 a
marca não lançou nada oficialmente. Ficou apenas nos dois modelos já citados,
muitas promessas, algumas postagens nas redes sociais... e nada de lançar novos
kits. Esperamos que o momento difícil da economia e da política na Turquia não
impeçam essa marca de alcançar o estrelato. (Nota do editor: Mantive essa parte
do texto para manter a originalidade em relação a matéria enviada para a
revista em janeiro de 2017.)
Blue Basing: Brincando com a ancoragem de cor das tintas
metálicas.
Esse modelo foi
pintado com um produto recente no mercado, a linha Xtreme Metal da marca
espanhola AK. A marca criou essa linha de produtos para competir com sua rival,
a Mig AMMO, que se aliou a tradicional marca de cores metálicas americanas
Alclad para distribuição de seus produtos na Europa.
Concorrência
sempre faz bem ao mercado, dessa vez não foi diferente. Alclad dispensa
apresentações, todos conhecem a eficiência e a capacidade dessa boa, porem
difícil de usar, tinta norte americana. A linha da Xtreme Metal AK se assemelha
e muito aos produtos da Alclad em diversos aspectos, e é uma boa opção para
nós, que lucramos agora com duas boas opções de cores metálicas (entre tantas
outras).
alcançando o polimento com cotonetes |
Essas tintas
são uma espécie de esmalte sintético diluídas em thinner, especiais para
aerógrafo. São tintas traiçoeiras, ariscas, difíceis de se usar e de acertar,
mas quando bem aplicadas, fazem um serviço excelente.
É
característica das cores metálicas em geral que elas possuam uma transparência,
uma permeabilidade maior para a base a qual ela esta sendo aplicada , ou seja,
tintas metálicas tendem a refletir mais o que está por baixo delas.
quase lá |
Por isso é
comum a utilização da técnica do “black basing”, ou base preta, para pinturas
metálicas. Eu desenvolvi a técnica um pouco mais, e utilizei o “blue basing”,
ou a base azul. Isso porque o preto, sendo a última cor do espectro de sua
família, tem pouca manobra no acerto do tom, já trabalhando com o azul, o range
de atuação se amplia, deixando o preto disponível para efeitos onde a sombra na
pintura deve ser mais escura ainda. Vou explicar como deve ser feito. Pode
repetir esse processo para cores Xtreme Metal, Alclad, Humbrol metalic, model
master metalizer, e outras tintas metálicas a base de esmalte sintético.
Primeiramente,
prepare seu modelo da forma adequada, fazendo de forma correta e delicada toda
a funilaria, não deixando passar riscos de lixa, machucados, enrugados do plástico,
resto de cola ou de massa, nada... deixe tudo bem lisinho. Isso irá se repetir
em todos os passos daqui pra frente, pois essas tintas muito finas e reluzentes
destacam demais as falhas deixadas no modelo (chega a ser chato).
Aplique um
bom primer de sua preferência, e que seja de preferência na cor cinza. Evite a
tentação de primers coloridos aqui, já explicarei o porquê. Deixe o primer bem
liso. Alguns modelos de primers, como os automotivos, é possível até dar
polimento neles, se possível faça. Esse é o motivo de se preferir os primers na
cor cinza, porque geralmente é difícil fazer os primers coloridos brilharem (se
você consegue, pode tentar).
Na sequência
você vai aplicar um azul brilhante, de forma bem diluída e homogênea, visando o
brilho como se estivesse pintando um carro. De preferência a tintas de boa
aderência, e pouco ruidosas, como duco ou acrílicos automotivos. Evite tintas
de origem muito ruidoso, como acrílicas nacionais, tamiya ou gunze, e
poliéster, isso porque você terá que polir a tinta sem verniz, e escolher uma
cor que gera textura e ruido vai causar mais dificuldade de encontrar o brilho
no polimento.
Se você
tiver uma boa mão no aerografo, você pode aplicar a pintura já controlando os
shaddings e saturações da cor, deixando ela já irregular na aplicação. Se você
ainda está dando os primeiros passos na areografia, depois de aplicar o azul de
forma bem solida e regular, você pode fazer um “pré-shadding” de preto sobre
esse azul. Está aí o motivo de usarmos azul na base ao invés de preto.
As cores as
Xtreme metal AK, assim como as alclad, não precisam de diluição para aplicação no
aerógrafo, podem ir direto do vidro para o equipamento. Recomendo baixar a
pressão do compressor para 10~15 libras ou menos quando estiver usando esse
tipo de material. Aplique sempre saturando pouca tinta de cada vez, dando tempo
para as secagens entre as mãos.
Esse canopy foi bem difícil de acertar. |
A cor que
melhor simula o alumino polido dos anos 50/60 é a Chrome. Se você aplicar pouca
camada de tinta sobre a base escura, elas tendem a brilhar mais, como frisos
cromados (fica a dica pra quem quer usar essa tinta para frisos cromados), se você
carregar mais na mão de tinta, ela vai ficando mais clara e menos reflexiva,
mais semelhante ao que era os alumínios aeronáuticos polidos. Não existe jeito
certo e jeito errado de aplicar, pelo contrário, utilize essa característica
para simular diferentes desgastes na superfície do avião.
Outras cores
da linha Xtreme Metal podem ajudar a compor o visual de diversas chapas de
alumínio com diversos níveis de envelhecimento. Todas as cores são bonitas, mas
não espere o mesmo brilho das chrome.
Se você pretende dar aquele visual “cadillac” no seu avião, de bastante preferência
para a cor Chrome.
Não é usual
aplicar verniz sob cores metálicas, por mais que o mercado hoje ofereça essa
opção. Isso devido a alguns motivos. Os principais deles são que, primeiro,
essas cores tem uma resistência mecânica muito frágil, e vernizes podem
danificá-las de forma muito difícil de ser reparado, e em segundo vem uma
questão de física do reflexo da luz, nossos olhos sabem diferenciar o reflexo
obtido através de uma estrutura cristalina metalizada e de uma superfície
envernizada e polida. A prova disso é que olhamos para um carro na rua Prata
metalizado e sabemos que ele está pintado. Costumo brincar dizendo que “é a
diferença entre olhar para um carro prata e um De Lorean”.
Ao final da
aplicação, essa tinta deve ser polida com material muito delicados. Eu
recomendo algodão, ou papel higiênico de folhas macias. Nada de lixas, ceras ou
massas, essas tintas não aguentam.
Para fazer
washed nessas pinturas, use sempre tintas a base de água, como guache ou
tempera, não utilize óleo, de forma alguma, e evite washeds com acrílicos que
sequem muito rápido. Misture a cor do washed, de preferência preto ou cinza
escuro para realçar as cores metálicas, misture com bastante água e uma gotinha
de detergente de pia para reduzir a tenção superficial da água. Esse washed
fica bastante delicado, e pode ser limpo com algodão e água mesmo muitos dias
após a aplicação. Pode ser uma opção de washed para qualquer pintura sua, não
só as metalizadas.
Fique atento
a descascados, descamações e perdas de brilho com essas tintas. Elas são muito
frágeis mesmo, e o manuseio entre a pintura e o acabamento do kit pode
danificar alguma coisa sim, então fique sempre preparado para fazer reparos na
pintura, principalmente do que estiver pintado com o Chrome.
As tintas
Xtreme Metal, assim como toda a linha de produtos Ak Interactiv, está
disponível no Brasil graças ao eficiente pessoal do site capixaba Usina dos
Kits (www.usinadoskits.com),
parceiros do blog e forneceram o material para esse tutorial.
Sobre o
avião.
O Rf-84
Thunderflash foi a última encarnação do veterano F-84 Thunderjet, o primeiro
caça a jato bem sucedido dos Estado Unidos no pós guerra. Em 1950, a empresa
Republic estava testando suas novas encarnações do Thunder jet, o Thunderstreak
XF-84F. O avião aproveitava partes da
fuselagem e do motor do Thunderjet, mas tinha novas asas enflechadas, uma nova
deriva e uma fuselagem mais aerodinâmica. Foi o primeiro caça de asa
enflechadas na história da USAF. Sua versão de reconhecimento teve um início
curioso.
O XRF-84
nasceu de uma tentativa de colocar um motor maior e mais pesado no avião, que
geraria mais empuxo. Para corrigir o CG do avião, o bico precisou ser alongado,
e com isso o intake de ar do nariz foi removido e as tomadas de ar passaram
para as raízes de asas do avião. Essa configuração não ficou boa, o avião
apresentou uma menor aceleração, e perda de potência em curvas fechadas (devido
a problemas de alimentação de ar nas raízes das asas). Em resumo, o avião
perdera muita capacidade de manobra em combates. Porém, os engenheiros
repararam que a modificação na fuselagem que esticou o nariz do avião criou na
parte frontal um porão, um espaço vazio que poderia ser ocupado com algo, como
câmeras de fotos e vídeos por exemplo. E a perda de capacidade combativa em
manobras quase não seria percebida em um avião que seria utilizado para
reconhecimento.
Assim nasceu
a bem-sucedida encarnação de reconhecimento do F-84. O avião operou por quase
duas décadas na força aérea americana, esteve no conflito da Coreia e do
Vietnam, e também na guarda nacional, além de ter sido oferecido a diversos
países da Europa como França, Bélgica, Itália, Alemanha, Grécia, Holanda,
Dinamarca e Turquia (versão essa do modelo montado nessa edição).
Os EUA
aposentaram suas unidades no início dos anos 70, mas as últimas unidade dessa
versão de reconhecimento foram vistas voando em serviço fora dos Estados Unidos
até os anos 80.