Olá amigos modelista.
Hoje irei falar de uns melhores kits da minha vida. Mas não foi
surpresa nenhuma, o kit foi pensado para isso, e quando o comprei e o
iniciei, sabia exatamente onde estava me metendo... As vezes, por
motivos diversos, me deparo com kits antigos da tamiya,
principalmente de militaria, e quase sempre o que encontramos são
kits simples para o padrão de hoje, mas que ao serem montados são
bastante satisfatórios, com uma precisão nos encaixes das peças
que impressionam mesmo nos padrões modernos, muitas marcas novas não
chegaram a essa precisão que a tamiya já tinha nos anos 60!
O que pensar então de
um kit Tamiya do século 21!? O kit impressiona desde o começo, na
hora da compra. A Tamyia escolheu o Storch, um avião muito
importante para história da aviação e da segunda guerra, para ser
se 100º avião 1/48, e eles não deixaram isso passar despercebido,
o kit é um presente aos colecionadores, com uma caixa com uma
contracapa super caprichada, versões para todos os gostos, desde as
de deserto, passando pela versão do avião particular de Erwin
Rommel (a minha escolhida), versões Europa e versões inverno (com
direito a ski e tudo...), mascaras de pintura semi-prontas (não
vieram cortadas como as da Eduard), photoeched, peças em metal e
resina, figuras de escultura excepcionais e mais acessórios para uma
composição de uma vinheta.
A montagem do kit é complicada, não recomendo a alguém que esteja começando. Não que haja falhas ou peças que não se encaixem, muito longe disso, o kit é perfeito nos encaixes e possui muito pouca funilaria a ser feita, apenas um pouquinho no dorso do avião logo depois do canopy, ontes da fuselagem se afinar. A dificuldade está na engenharia aplicada ao kit. Tudo funciona, desde que seja seguido a risca o manual, passo a passo, sem margem para esquemas próprios de montagem (todo modelista tem, poucos são aqueles que seguem a risca um manual).
Pessoalmente não acho
que esse kit mereça ser melhorado, mas como minha opção seria
fazer com o motor exposto, somente o que vem no kit não foi
suficiente. Acresci ao motor uma chapa dissipadora entre os blocos de
pistão, cabos de velas, alguns outros cabos, e pronto, nada de mais
complexo precisou ser feito.
Na pintura, foi
utilizado tintas automotivas, e foi aplicado a técnica de
pré-modulação de cores com aerógrafo, que consiste em, sem
modificar as cores a serem utilizadas e utilizando diferentes níveis
de saturação de cores com o aerografo, a pintura já sai desde a
primeira mão de tinta com marcas de desbotamento, envelhecimento e
desgastes diversos. Alguns efeitos foram reforçados posteriormente
com técnicas de sombreamento (minha opção sempre é a tinta smoke
da tamiya aplicada bem diluída com aerógrafo), filtros com tintas
óleo e washed com tinta esmalte. A camuflagem foi aplicada com um
aerografo 0.3 com trava de curso (no caso um aerógrafo tamiya) e
tinta automotiva. O acabamento final foi feito com verniz Dulcote
fosco da Humbrol.
O Avião
Citei que esse avião é
muito importante para a história da aviação, mas ele não é tão
conhecido como os caças e os bombardeiros da época, mas sua
importância deve ser reportada.
O Fieseler Storch 156
nasceu no final dos anos 30 de um licitação alemã para o
desenvolvimento de uma aeronave multiúso, com foco estratégico em
voos de observação e ligação, que utilizasse o motor Argus As 10
de 8 cilindros em V e 240 cavalos, e que tivesse as qualidades de
pousar e decolar em curtíssimas distâncias.
Em 1935 muitos
fabricantes apresentaram seus protótipos, mas o modelo da Fieseler
superou todas as expectativas, e acabou ganhando a licitação com
facilidade. Isso se deve a sua mistura de simplicidade (asa alta,
trem fixo, comandos simples) e sua sofisticação (asas com freios,
compensadores, slats, ailerons e flaps, todos reguláveis, alem de
ângulo de ataque dos profundores variáveis, asas dobráveis para
armazenamento outras coisas mais...). Seus números surpreende até
hoje. Um storch pode decolar com apenas 80 metros de pista, e pousar
com apenas 60 metros. Sua velocidade era baixa, 175 km/h de máxima,
nada espetacular mas que deixa a aeronave um alvo muito difícil para
caças (de fato, os relatos de abate por outros aviões são raros,
os abates mais comuns eram por falhas mecânicas e artilharia, nessa
ordem). Sua grande carga alar fazia com que ele voasse a 15000 pés
(4600 m aprox), uma altura considerável para época ao se tratar de
um motor de 240 cv (durante a guerra, algumas versões chegaram a ter
300 cv, mas foram poucos e a performance não mudava muito). Sua
características de STOL (short take-off an landing) deram a ele
inúmeras funções. Era capaz de pousar em asfalto, terra, grama,
areia, gelo, em avenidas, parques, clareiras e etc... e logo, todos
os núcleos das forças armadas acharam funções para o storch. Ele
foi o avião de observação mais bem sucedido da guerra, graças a
sua “facilidade de voar”, ele podia sobrevoar a cabeça do
inimigo por horas, sem que fosse percebido (o motor fraco ainda
ganhava silenciadores no escapamento, a apenas 5000 pés de altura,
já não era mais possível escutá-lo do solo), e mesmo que o
adversário usasse radar, sua estrutura leve de tubos de alumínio
entelados com lona fazia com que sua leitura no radar fosse possível
nos dispositivos mais sofisticados da época apenas, e mesmo assim
uma leitura bem pequena e ruim.
Mas ele não ficou
apenas com a função de observação. Ele foi usado para ligação,
transporte, instrução e treinamento, avião ambulância e estação
de comando, todas funções exercidas com exito. Sem tanto exito foi
a aplicação de caça bombardeiro, ou bombardeiro tático, isso
porque sua capacidade de carga era pequena, e ao aproximar-se dos
alvos, o avião ficava vulnerável a artilharia. A aeronave foi
utilizada por todos os países do eixo, sem exceção, e ainda foi
fabricado pela união soviética pela Antonov, como parte do acordo
de não-agressão entre Alemanha e URSS, a Alemanha cedeu aos russos
o projeto do avião como forma de mostrar boa vontade. E ainda foi
utilizado pelos ingleses, que possuíam unidades capturadas. Após
fim da guerra, a fabrica francesa Morane-Saulnier
o fabricou com o nome de Criquet até a metade dos anos 70, com
diversas modificações na motorização.
Se
você ainda duvida da importância dele, vai alguns fatos sobre esse
avião:
- Foi oficialmente o primeiro avião Alemão a decolar na Segunda Guerra Mundial para dar apoio as tropas e ao ataque aéreo na polônia na madrugada do dia 1 de setembro de 1939.
-
Foi o ultimo avião Alemão abatido durante a guerra, alguns minutos antes da assinatura da rendição. As causas do abate não são confirmadas, apesar de um piloto americano que pilotava um outro avião de transporte afirmar que tenha abatido o avião ao acertar o piloto do storch com sua arma de mão. Como disse, essa versão não foi confirmada.
- Erwin Rommel, Heinz Guderian, Adolf Galland, Karl Dönitz e quase todos os outros oficiais de primeiro escalão da Alemanha na segunda Guerra possuíam seus próprios Storchs para serem usados como ligação e observação.
- Benito Mussolini foi resgatado de storch em 18 de setembro de 1943, quando furtivamente um storch pousou a noite na Itália invadida sem ser percebido pelos aliando e conseguiu ser levado a Alemanha.
- Em 10 de maio de 1941, Rudolf Hess pilotou ele próprio seu storch até a Escócia, onde pensava que iria negociar sua rendição e da Alemanha, mas foi preso imediatamente ao pousar e foi julgado apenas em Nuremberg, ao fim da guerra.
- Durante a “Batalha de Berlim”, centenas de fugas foram protagonizadas pelos Storch. Devido sua discrição e principalmente pelas suas características de STOL, era o único avião disponível capaz de pousar nos aeroportos destruídos, além de relatos de pousos em avenidas, parques, campos de futebol e até no zoológico de Berlim. A aviadora aventureira Hanna Reitsch pouso seu próprio Storch em uma avenida próxima do Bunker em abril de 1945 para resgatar Adolf Hitler. Muitos acreditam que isso de fato aconteceu, mas a versão oficial diz que Hitler dispensou Hanna para que ela e seu marido se salvassem e a agradeceu por isso. Também foram encontrados em um prédio próximo ao bunker dois Storchs armazenados prontos para voo. Os soviéticos que os acharam acreditavam que se tratava de aeronaves de fuga de Hitler e sua amante.
- Alem da segunda guerra, o Storch, ou o Criquet francês, foi utilizado em guerras na Indochina, Vietnã e Argélia.Sem duvida está provado a importância desta pequena aeronave na história da aviação.Um forte abraço e até a próxima!